quarta-feira, 28 de abril de 2010

#19


Têm dias que me fazem acreditar que tudo vai mesmo ser melhor, sabe.

Penso nisso enquanto conto mentalmente os passos que faltam pra eu chegar em casa, às 6:45, feliz. E um dia ela estará aqui pra dividir essa felicidade comigo, de tomar café-com-leite-e-pão às 5 - Ouvindo aquela musiquinha que caminha entre o rock inglês e os bonitos solos de trompete do jazz, mas que pouca gente conhece - enquanto mais que a metade da cidade ainda não pensa em levantar. Ou simplesmente caminhar de mãos dadas na av. República do Chile sob um céu lindo de tão cinza.

Ser feliz, pra esse sujeito estranho que escreve essas linhas, antes de dormir, enquanto decide pelo banho quente ou frio, é exatamente ter a capacidade de escrever essas linhas, de sonhar apesar de tudo, de acreditar que lá na frente ela estará aqui sorrindo, como já sorri, mas também dividindo os abraços, os caminhos, tudo que ela queira ou precise. Mas tudo bem se não der pra ser agora, tudo bem se eu te ligo e não digo quase nada disso, só que te quero bem, que me preocupo e que eu poderia estar mais feliz. Tudo bem mesmo. eu espero, do seu lado, sem poder tocar, você resolver sua vida e tal. Aí sim, poderei, enfim, enxergar toda a beleza do mundo, em alguma outra manhã fria e de passos tortos, como essa, pelas lentes do seu lindo óculos de grau.

ok?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

#18

Acordou e andou meio que de olhos fechados
até o banheiro. Lavou o rosto, escovou os dentes
e reparou no cabelo despenteado, acreditou ter tido
uma boa noite de sono. Sempre que seu cabelo amanhecia
mais embaraçado que o normal, Paula acreditava que o dia
seria bom. - Talvez seja algum tipo de transtorno obsessivo
compulsivo que ela tenha, mas enfim. Isso não faz a menor diferença, agora.
Pro café preparou uma tigela com seu cereal preferido, quando
acabou foi a varanda, fumou um cigarro, acompanhado de uma
xícara de café pingado...
Depois ligou a televisão, e todos os canais legais passavam esses programas chatos de culinária. Resolveu ir tomar banho e reparou que seus seios estavam maiores, ficou fazendo poses nua no espelho e prometeu lavar a cabeça amanhã.
Saiu do banho e ainda enrolada na toalha botou um dos seus CDs preferidos, konk do The kooks.
Enquanto se vestia cantava loucamente a cada música.
Botou seu all star vermelho e foi ao supermercado comprar um vinho, pois
receberia visitas a noite. No mercado Paula se encantou por Marcos,
o gerente do estabelecimento. Marcos olhou Paula de um jeito diferente
também, meio que encantado com tudo, mas sem saber o porquê.
No caminho de casa, Paula pensava que se tivesse bastante dinheiro
compraria todo dia uma garrafa vinho nesse supermercado, mas não receberia visitas de mais ninguém, só as de Marcos.
- Paula riu dos seus próprios pensamentos e provavelmente amanhã irá amanhecer com os cabelos mais embaraçados que o normal. Mais uma vez.

terça-feira, 6 de abril de 2010

#17

Há tempos a rosa tenta entender o notório prazer
em que o vento tem de balançar todo o jardim.
Houve dias em que o tal bagunçou todo e sou penteado,
e sem justificativa sorria como uma criança.
- vem cá, vento. O que te leva a fazer toda essa bagunça?
E o vento soprava devagar, fazendo todo o jardim
dançar com elegância...
A rosa com toda sua vaidade mantinha-se irritada, e
desejou com toda sua raiva que o vento fosse embora
pra nunca mais voltar. O vento triste soprou mais forte
levando consigo todas suas bailarinas, deixando a rosa
sozinha, que se esqueceu de que é o vento quem convida as
nuvens a regar o jardim.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

#16

E você surge assim, sorrindo, de repente, de camisa preta, com o cabelo ainda molhado. Olha e sem pensar muito diz qualquer coisa. Quase sussurrando. Anda de um lado para o outro. Com passos lentos, com sorrisos largos, com aquela calça jeans de antigamente.

Sem perceber – ou fingindo não perceber - ignora o casal ao lado. E com voz baixa, diz os oito dígitos do seu novo telefone.

Você sorri, ajeita o cabelo, olha o chão. E sabe-se lá por que percebe que tudo pode existir. Sendo bom ou não, sendo real ou não. Pode existir. E talvez até exista. E assim quem sabe encontramos até mesmo o sentido que nunca existiu, ou que nunca tivemos a capacidade de enxergar, durante tantos anos.