quinta-feira, 25 de março de 2010

#15

- Eu fico aqui só pensando... Como a gente
é feliz! - Disse Luíz
- Pois é meu bem. Lembra dos nossos passeios?
E todos aqueles carnavais, um melhor que o outro. - Respondeu Marinês.
- Sabe, nesse tempo todo eu só me arrependo de uma coisa.
- E o que é? - Pergunta Marinês preocupada.
- Não ter dançado aquela valsa com você nos seus 15 anos.
- Mas nem nos gostávamos naquela época.
- Fale isso por você. Não dancei por pura vergonha. - Disse Luíz
com um leve sorriso no rosto.
- E eu só me arrependo de não termos olhado as estrelas com mais frequência.
- Podemos fazer isso agora!
- Como homem? - Indagou Marinês com os olhos brilhando.
- Afaste as cortinas e abra as janelas.
Após atender o pedido, Marinês escreveu um bilhete aos seus dois filhos e
deitou sua cabeça no peito de Luís.
No oitavo andar daquele hospital, as estrelas brilhavam mais forte.
Levando o casal mais feliz do mundo pelo coração, Luís por infarto
e Marinês por emoção.
-
No bilhete dizia: "Saímos a passeio, aproveitem a vida assim como nós!
Pai e mãe amam vocês."

domingo, 21 de março de 2010

#14

Na Argentina havia a mais linda de todas
as mulheres. Ela só andava de vestidos longos,
amarrava os cabelos e adorava passar maquiagem
para deixar ainda mais brilhantes seus olhos verdes.
Muitos homens morriam de paixões pela linda moça.
Houve ate quem pediu divórcio para tentar se casar
com ela, mas acabou sozinho. A mulher mais linda, doce,
delicada, com a voz mais aveludada de todas não se permitia
apaixonar por ninguém. Era um medo tão grande de ser
humilhada por quem ela amasse que ela decidiu contar
toda a verdade na principal praça de sua cidade.
Todo mundo reunido e ela começou a contar...
Disse que seu ex-marido era muito ciumento e
que por isso andava sempre com seus longos vestidos,
que só amostravam o seu rosto. O ex-marido tinha atirado fogo
em todo o seu corpo, após uma horrível briga.
E foi tudo como ela achou que fosse. Todos os homens da praça
deram as costas chocados e foram embora comentando o fato.
Mas lá no fundo sozinho e admirado por tal coragem tinha um
cidadão. Ele correu e deu um forte abraço na linda mulher,
pois tinha se apaixonado por seu coração.

quinta-feira, 18 de março de 2010

#13

No meio da noite, o que ela diz, sem perder o ritmo, tem menos importância do que o que escolhemos sentir. E, assim, tão próximos, minha maior vontade é tocar aqueles seios tão bonitos, e pequenos, que deixam de se esconder, sem muito esforço, onde a lucidez não tem forma, e o conjunto das nossas vontades valem bem mais do que qualquer tentativa de frase incompleta, inacabada. Enquanto seleciono as cenas, ela sorri, olha de lado, e tenta fugir, contrariando o que nós dois sabemos que existe, inventando desculpas que não cabem no curto espaço de tempo da noite de barulhos repetidos, de luzes coloridas, de desejo, de delírios, com ou sem efeito do álcool. Não precisa ter ou fazer sentido, nós sabemos, claro. Ela apenas dança, e eu tento seguir os passos, alcançar com as mãos o que não consigo tirar do pensamento, sem tentar entender a ordem com que tudo acontece na vida, ou, simplesmente, em cada pequeno momento que não sabemos exatamente o que fazer.

segunda-feira, 15 de março de 2010

#12

Ligia é uma menina calma e comportada, que
no auge de seus 19 anos nunca foi de dar
trabalho aos seus pais, mas chora todas as noites abraçada
com seus bichos de pelúcia, lendo cartas de alguém
que ela jamais vai esquecer.
Ela paga sua tão sonhada faculdade de moda com o seu
exemplar trabalho de recepcionista em um consultório dentário
e quando tem tempo, gosta de ir a beira mar
observar todos os barcos, como se cada um
fosse um apaixonado casal de namorados. Mas de uns meses pra cá,
Ligia tem faltado suas aulas na faculdade
para procurar um novo emprego. De tão dedicada e persistente,
ela trancou sua tão sonhada faculdade de moda para juntar
todo o seu dinheiro e ser uma linda vendedora de loja.
Agora sem tempo para mais nada e com dois empregos, fazendo todas
as horas extras possíveis, mas feliz, pensa em um dia abandonar
o Rio de Janeiro e ir viver em Porto Alegre.
E se perguntam, ela diz que é, amor!

sábado, 13 de março de 2010

#11

Miguel era um garotinho de 8 anos
que adorava subir em árvores, correr
no quintal de braços abertos, assustar as aves
só pra vê-las voar e admirar a beleza das borboletas...
- Miguel, o que você vai ser quando crescer? - perguntou sua mãe.
- Vou ser um pássaro, mãe!
Até com os seus 17 anos de idade as respostas eram as mesmas,
em qualquer lugar.
- E aí Miguel, já tirou aquele sonho besta da cabeça? - perguntou um amigo.
- Que sonho besta?
- Como se não soubesse. Esse de ser um pássaro!
E todos na sua roda de amigos morreram de rir.
Em casa não era diferente, todos achavam que essa
história de ser um pássaro já tinha passado dos limites.
Miguel até chorou algumas vezes, mas nada que abalasse seu sonho.
Quando completou 23 anos de idade, Miguel reuniu todos que não acreditavam
nele em uma praça de sua cidade, e sumiu.
Quando o relógio bateu 11h: 00min em ponto,
no alto da praça passou um avião com uma faixa que dizia...
"Eu, pássaro Miguel, perdoo a todos vocês que não acreditaram em mim."

quarta-feira, 10 de março de 2010

#10

Ana vê filmes alternativos na sala,
enquanto pinta as unhas dos pés de vermelho,
só para combinar com sua bolsa que ninguém
jamais elogiou. Ela sabe que unhas vermelhas
nos pés não é bonito, e que sua bolsa não
é das mais legais, mas naquele dia de chuvas
de Março, em que as gotas batiam em sua janela
como se quisessem entrar, Ana estava feliz
e nada a impediria de ir onde estivesse afim.
Mas isso foi há 9 meses atrás, numa sexta-feira,
às 19h:38min, antes de Júlia nascer.
Agora aos 16 anos, Ana é mãe, perdeu todos
os seus sonhos e não tem mais tempo
para pintar as unhas, de qualquer cor que seja.

segunda-feira, 8 de março de 2010

#9

As luzes que iluminam o céu, horas depois, não deixam de iluminar seu vestido, tão colorido quanto o sorriso surpreso pelo encontro, que ao longo do tempo se tornou comum em lugares inesperados. E eu só penso em transformar todas essas cores em canções que falem de nós dois. E mais nada, meu bem. Mais nada.




quinta-feira, 4 de março de 2010

#8

Em 1989, sempre se soube de um rapaz que tentava se matar,
numa pequena cidadezinha de Minas Gerais.
Ele tentou a primeira vez e o bombeiro César o impediu,
tentou a segunda e novamente estava lá o bombeiro César.
- Conheço histórias como a sua, rapaz. Você quer é chamar
a atenção da TV - Disse César.
oito meses depois, Pedro um escritor jovem e nada famoso
andava pela ponte que levava a cidade vizinha...
- O que faz aí, homem? quer morrer, é? - Disse Pedro.
Mais uma vez era o tal rapaz querendo chamar atenção.
- Pois é, amigo...
Pedro sempre achou a morte (não importando como seja) bem natural.
Mesmo assim nunca pensou em se matar.
- E qual é o motivo pra querer se jogar daí?
- Perdi as esperanças, amigo. Perdi as esperanças!
(Mentiu o rapaz, que só queria chamar atenção.)
- Eu vou te livrar dessa dúvida. Quando se perde as esperanças,
perde-se tudo!
E assim, sem nem que o rapaz mentiroso conseguisse se explicar,
Pedro o empurrou de lá, levando o rapaz a óbito.
Era feriado prolongado na cidade, às ruas estavam vazias. Por isso
até hoje todos acreditam que o rapaz finalmente deu fim a sua vida.
Já o bombeiro César culpasse por ter duvidado do rapaz.

quarta-feira, 3 de março de 2010

#7


O telefone custa a tocar, e quando toca não é você. Eu desisto de tentar insistir. Porque depois de algum tempo o melhor mesmo é deixar pra lá. Fica com o tempo a responsável decisão do que pode, ou não, acontecer,
e enquanto isso eu deixo de escolher as datas, as roupas e os planos.

Escolho a distância como única opção pra nós dois.

terça-feira, 2 de março de 2010

#6


Isabela é assim, sozinha, calada, ama os livros
e algumas bandas gringas que gritam quase o tempo todo.
Troca o dia pela noite, só pra dormir bastante
e não ver ninguém pela manhã. Ela não gosta do sol, mas também
não gosta da chuva, gosta é do vento e de suco de laranja
com duas pedras de gelo.
Ultimamente ela tem amado piquenique aos domingos e odiado
a grama verde e bonita, só porque ela faz coçar.
Isabela ama os animais, mas só tem um peixe e um gato gordo.
Tem amigos que não são amigos dela e dizem "te amo", diz que
é feliz e não é, e também gosta de mulher.
Nos últimos meses ela tem gostado de Ricardo, que gosta de Maria,
que por sua vez, não gosta de ninguém.
Isabela é assim, acha estranho tentar fazer alguém esquecer
alguém ao invés de tentar ajudar a aproximar.
Pois é, essa é Isabela. Mas bem que podia dar um nome ao seu
verdadeiro amigo. O gato gordo!